"Emprestar é um
prazer, devolver é um dever."
1 - O amanhecer
doentio
Acordou de manhã e
tomou seu café magro: pão com manteiga e chá. Foi até o quarto e apanhou o que
procurava.
Não era a primeira
vez que faria isso. Deu uma olhada em seu caderno de anotações e limpou suas
armas.
A viagem seria longa
e só poderia ser feita após seu trabalho.
Saiu então para
trabalhar, era funcionário dos correios.
O dia passou em meio
ao turbilhão de pessoas que lotava os guichês. Saiu do trabalho aliviado pois
agora iria atrás de sua vingança.
Assoviava um hino de
sua nova igreja.
Rubens estava sem um
puto no bolso, quem diria.
Após uma vida cheia
de mimos se tornou um garoto de programa.
O pior era encarar
aquelas velhas carcomidas e aqueles homens nojentos. Vivia então neste ritmo
monótono de luxúria.
Mas esta noite era
diferente.
Rubens estava parado
em seu ponto quando viu aquele homem estranho se aproximar de uma casa. O homem
carregava uma mala.
"Deve ser
turista, só pode."
Aquele homem foi se
aproximando e lhe perguntou:
- Você conhece o
Renê? Fiquei sabendo que ele morava por aqui.
O garoto de programa
conhecia o Renê, afinal era o maior viciado daquelas bandas. Diziam que o Renê
devia até a alma aos traficantes.
- Conheço sim. Ele
mora ali ó!
E apontou para
mostrar a casa. O homem olhou Rubens e disse:
- Renê tem algo que é
meu. Você sabe se ele está em casa?
Rubens respondeu:
- Não sei não, ele
vive por aí procurando droga...
O homem começou a
andar em direção da casa de Renê, no meio do caminho se virou e disse ao
Rubens:
- Sai dessa vida
garoto.
E lhe deu as costas,
Rubens lhe mostrou o dedo médio.
"Que
otário!"
Viu então o homem
bater palmas em frente da casa. Era em torno de onze e quinze.
Rubens deixou o
cigarro nas mãos interessado na cena.
Renê saiu chapado
para atender.
- Quem é?
O homem disse:
- Não lembra de mim
Renê?
Renê coçou os olhos:
- Não lembro não. Se
não te devo... cai fora!
Ia fechar a porta mas
o homem falou gravemente:
- Me deve sim, vim
buscar minha Laura!
Renê ouviu aquilo
espantado:
- Cara, é você mesmo?
Quantos anos que não te vejo, quer entrar?
O homem respondeu:
- Só quero a Laura. E
uma reparação.
O chapado lhe disse:
- Tu vem até minha
casa a esta hora procurando isso? Você tá me zoando meu?
O homem riu:
- Sabia que não seria
fácil. Eu sabia e esperava que não fosse pois isso torna o que vou fazer certo.
Rubens viu então o
brilho da doze, cano cerrado. O homem apontou para Renê e atirou.
O primeiro tiro
destruiu os genitais e parte das coxas.
-
Ahhhhhhhhhrrrrgggghhh!!!
Os gritos invadiram a
rua. O homem levou o indicador à boca e disse a Rubens:
- Shhhhhh!
Disse calmamente.
- Onde está Laura?
Chorando e sangrando
muito Renê apontou o interior da casa. O homem pulou Renê no chão e entrou.
Gritou dentro da
casa:
- Onde?
Renê gritou a
resposta:
- Na estante porra!
Tu me matou. Tu arregaçou meu pau por causa de uma merda dessa...
O homem saiu da casa
com uma caixa pequena nas mãos.
- É minha reparação
Renê. Meu Senhor, a vingança é minha!
E atirou na cabeça do
drogado. A massa cerebral fez parte do quintal. O homem foi embora calmamente
assoviando.
Rubens estava
chocado.
Só depois percebeu
que o cigarro queimava seus dedos.
A polícia não deu
muita atenção ao caso pois Renê era um viciadinho.
De manhã Rubens saiu
de casa para procurar um emprego... num amanhecer doentio.
2 - O coletor
Viveu cansado de ser
atropelado em seus planos e desejos. Sentia mal por existir e participar do
jogo patético das relações humanas.
Todo mundo queria
algo. E se não eram correspondidos não queriam mais nada.
Mundo mesquinho,
mundo idiota que o torturava.
Se um doutor de
mentes o encontrasse diria que ele havia bloqueado algo de seu passado.
E seria verdade?
Mas isso pouco
importava para ele, afinal estava bloqueado!
Perdido entre sombras
de sua mente distorcida.
O que importava agora
era o que fazia depois de seu expediente dos correios.
E se lembrava como
encontrou sua crença.
Estava fadado a ser
um dócil cidadão toda a vida.
Foi quando achou
aquela carta embaixo de sua porta de entrada.
Sua vida era tão
monótona que nem se lembrava quando havia recebido uma correspondência que não
fosse uma conta.
Sentou-se no sofá
embolorado e leu.
"Prezado ******.
Esta carta não é uma brincadeira.
A I.V., nossa amada
I.V.¹, vem por meio desta solidarizar com sua dor. E garantir que o senhor
tenha uma forma de sentir-se melhor.
Essa esfera de terra
e água está suja demais.
Pessoas conseguem
rancor pedindo salvação.
Sabemos que o senhor
é prejudicado por várias pessoas. E que o rancor que acumula é grande.
Propomos uma mudança
radical em sua vida!
Antes que o senhor
pare de ler, achando que queremos dinheiro ou torná-lo um palerma, pergunte-se:
Como sabemos seu
nome e seus problemas (que não estão detalhados aqui por forma de educação)?
Resposta:
Nosso Senhor nos
disse.
Quer saber do que se
trata?
Então faça um favor
a si mesmo. Compareça neste local grafado abaixo, o senhor não irá se
arrepender.
Repetimos, isso não é
uma brincadeira!"
Ao final havia o dito
endereço. Aquela folha de papel tocou fundo em seu espírito.
Não se surpreendeu
quando estava à frente do referente local. Estranhou o lugar, logo foi guiado
por um jovem que se vestia de preto.
Numa espécie de sala
estavam os outros.
E depois de ouvir o
que diziam ele se encontrou. Disseram-lhe que uma encomenda chegaria em sua
casa em seis dias.
Depois, houve uma
cantoria.
Quando foi embora
assoviava o hino recém-aprendido.
Seis dias depois
estava em sua porta a mala. Em cima desta um bilhete.
"Aqui está seu
material. Procure seu foco de salvação e tenha toda licença poética de fazer
seu trabalho.
Ao nosso Senhor; que
a vingança seja tua!"
Foi aí que lembrou de
seu caderno de anotações. Quando deu por si, estava gargalhando.
Voltando seu
pensamento ele lembra-se da noite passada, de seu encontro com Renê.
Renê foi o seu número
quinze. Pensou apenas um minuto no número que Renê agora representava.
Então pegou a caixa
nas mãos e retirou a fita VHS.
Eram seis horas da
manhã e ele se masturbava furiosamente assistindo "O Bacanal de
Laura"².
3 - Coisas bizarras
- Viciado é morto por
traficante. Algo é levado para pagar a dívida. Caso encerrado.
A detetive Olga Costa³
ouviu isso da boca de seu superior.
Fazia meses que Olga
insistia na teoria de um assassino agindo na cidade. Um executor que matava
praticamente do mesmo modo.
Olga só não conseguia
achar uma ligação entre as vítimas. Eram díspares, de faixas etárias diferentes,
de sexos diferentes até mesmo de etnias diferentes.
Ela ouvia da boca dos
seus companheiros.
- Não pode ser o
mesmo.
Mas em vários casos
as testemunhas afirmaram ter visto um homem com uma mala. E em todas cenas de
crime algo foi levado em uma relação bizarra. Talvez souvenires.
Todos eram baleados
fatalmente, sempre.
Neste dia, Olga
deparava com o cadáver sem rosto de Renê Dantas. Havia sido avisada por outro
companheiro, o Palhares.
- Olga. Tem um presunto
todo esburacado que talvez case com suas teorias loucas.
Ela perguntou:
- Existem
testemunhas?
O Palhares disse:
- Não. Só populares
que encontraram o cadáver. Ninguém viu nada.
Já acostumada com o
jeito pouco sutil do assassino Olga pensou.
"Alguém viu
algo."
E rumou para a cena
do crime.
Bateu em portas
naquela rua suja, sabia que se tratava de uma boca de drogas e ponto de
prostituição.
Destemida. Foi
sozinha.
- Tem um mandato
policial?
Foi o que disse
Lucão, traficante casca grossa, preso diversas vezes. Duas prisões efetuadas
pela própria Olga.
- Tua sorte é que
respeito os meganhas. Afinal vocês fazem seu trabalho e nós fazemos o nosso.
Olga sentiu-se com
sorte.
Perguntou se Lucão
não vira nada estranho na noite anterior.
- Só ouvi barulho mas
nem saí pra ver.
Ela desistia e ia
para porta quando ele disse:
- Talvez o Rubens
tenha visto, ele é michê e sempre fica aí na rua.
Olga anota o endereço
de Rubens e sai.
Foi subindo a rua que
ela o encontrou. Estava em frente à sua casa, bem vestido e com uma pasta azul
nas mãos.
"Nem parece
michê".
Se apresentou como
policial e o rapaz entrou em pânico.
- Fui procurar
trampo! Não sei de nada.
Olga disse:
- Sei que viu o que
aconteceu. Somente eu vou saber, me diga.
Rubens, sabe-se lá
porquê, confiou na policial.
- Ele estava com uma
mala, usava óculos e tinha cabelo preto...
Olga cortou:
- Isso eu sei. Você
viu se ele levou algo de dentro da casa?
O rapaz estremeceu:
- Aquilo foi horrível
moça, desculpe, policial, ele entrou na casa e saiu com uma caixa.
Olga perguntou como
era a caixa:
- Parecia com uma
fita de vídeo.
Estava aí a coisa.
Nada de dinheiro,
somente uma fita de vídeo.
"Esse sujeito é
maluco."
Enquanto isso, um
trabalhador dos correios que usava óculos saía do trabalho.
Foi para casa e fez
um telefonema. Conversou com uma mulher e marcou o jantar.
Era noite de coleta.
4 - Jantar de
negócios
Saiu de casa
apressado e bem vestido.
De terno preto e com
seus óculos de baixo grau, ganhava ares intelectuais.
Chegou no restaurante
atrasado, ela já o esperava em uma mesa.
Ele não fez questão
que ela se levantasse, foi até a cadeira e a beijou na bochecha.
- Oi linda!
Ela radiante
respondeu:
- Obrigado pelo
elogio *******. Você está muito bonito também. E esta mala? Virou executivo é?
Ele riu e sentou-se
em uma cadeira.
- É. De alguma forma,
sou um executivo. Vamos pedir?
Comeram o macarrão
maravilhoso, acompanhado do vinho da casa. Ela lhe olhou com carinho:
- Sério. Você está
muito bonito.
Ele sorriu.
Então ficou com uma
cara sinistra.
- Tenho que estar bem
vestido, esta noite é especial.
Limpando os lábios
com o guardanapo ela disse:
- Para mim também é
especial. Eu tenho algo a dizer.
Ele não esperou, com
o rosto transtornado disse:
- Diga. Por que me
deixou para ficar com o Mateus?
Ofendida ela
protestou:
- Seis meses e é com
grosseria que me trata novamente. Seu jeito de falar; depois desse tempo todo
você não mudou.
Ele:
- Mudei sim, na
verdade, somente vim buscar o que é meu.
A encarou com frieza:
- Já você, nunca foi
minha.
Ela:
- Que grosso! Eu
pensei que se tratava de um presente.
Ele respondeu:
- Não, não era. Era
item de coleção. Somente o emprestei para que você pintasse seu maldito quadro
na escola de arte.
Uma lágrima corre do
olho dela.
- Eu ia te dizer uma
coisa especial. Você me trata assim por um pedaço de plástico? Você não merece
saber o que eu ia dizer.
Ela passou o embrulho
por cima da mesa. De tão nervosa esqueceu um bilhete em cima do embrulho.
Ele olhou o pacote
sem abrir, de tão eufórico nem viu o bilhete.
- Você é a última.
Meu Senhor; a vingança é minha!
Abriu cuidadosamente
a mala e empunhou a arma contra o rosto da moça.
- O que vai fa...
O tiro assustou todos
do restaurante, com o impacto a moça sem rosto caiu virando a mesa.
Engenhosamente o
bilhete se abriu no solo.
Foi aí que ele notou
a barriga dela. Sinistramente ele leu no bilhete ao chão:
"Você sempre
quis ser pai... Sei que não estará comigo mas o amor que sentíamos gerou nosso
filho. Talvez você guarde o que tem nesse embrulho e entregue pra ele depois.
Obrigado por me
fazer mãe. Te amo por isso.
Glória."
Ficou chocado
lamentando o que fez. Passou um, três, cinco minutos e percebeu que teria que
fugir.
Em casa veio a
vontade de se matar ao abrir o embrulho e retirar o boneco Falcon. Boneco esse
que daria ao filho... que ele próprio matou.
5 - Pertences
Olga Costa chocou-se
com o crime.
"O animal matou
uma grávida. Uma grávida!"
Mesmo sensibilizada,
aceitou a tarefa de falar com o marido da vítima.
Mateus Rosa
desmoronou diante da detetive.
- Ela saiu de casa só
para rever um amigo...
Um amigo. Era o
culpado, Olga sentiu com uma certeza maquiavélica. Seu celular tocou.
Peritos disseram à
Olga o conteúdo do bilhete manchado de sangue.
- Sei que o momento é
difícil, mas podemos pegar quem fez isto com Glória. Precisamos de sua ajuda.
O amargurado homem
pôs-se a responder várias perguntas.
- Não, não conheci o
pai. Glória se aproximou de mim em crise, disse que ele não aceitou a separação
muito bem. Eu a amava demais, o fato de o filho ser de outro não impunha
obstáculo.
Sem revelar o
conteúdo do bilhete ao marido da vítima, Olga continuou:
- Ela lhe disse quem
era o amigo com quem ia se encontrar?
Ele coçou a cabeça:
- Chamava Eduardo
pelo que lembro, Glória ia lhe devolver algo.
O rosto dele iluminou
com a recordação.
- Era um brinquedo,
um boneco.
Olga então finalmente
revelou que Eduardo podia ser o pai do filho de Glória.
Mateus suicidou-se
naquela noite. Deixou um bilhete.
"Se Deus tivesse
me dado um pouco mais de ciúme."
A cabeça de Olga
trabalhava à mil. Suas suspeitas estavam certas e a ligação estava à sua
frente.
"Todas as
vítimas o conheciam. Ele não roubava, apenas tomava o que havia emprestado e
que não fora devolvido."
Foi investigar então
o passado das dezesseis vítimas.
Abriu um sorriso:
- Vou pegar esse
desgraçado!
As investigações
davam conta que as quatro primeiras vítimas estudaram da primeira à quarta
série juntas.
Seis vítimas
sequentes estudaram da quarta até o ginásio também juntas.
E as últimas seis
foram estudantes da Escola da Arte.
Um nome comum era
procurado por Olga.
Eduardo.
E foi encontrado, seu
nome era Eduardo Soares.
Eduardo Soares
estudou da primeira à quarta série no colégio Santa Alva. Continuou seus
estudos em uma escola chamada Mauro Godim e depois disso fez parte do quadro de
estudantes da Escola da Arte.
Uma coisa irritava
Olga.
Não encontrava fotos
de Eduardo.
Perguntou a uma
funcionária da Escola da Arte.
- Como ele era?
A funcionária
respondeu:
- Era alto e magro.
Tinha os cabelos negros, era branco e usava óculos.
Sem dúvida era o
assassino coletor.
Com a ajuda da
funcionária foi feito o retrato falado.
Haviam alguns
Eduardos Soares registrados na cidade e isso dificultou a busca.
Mas um telefonema
anônimo mudou tudo.
- Eu vi esse cara do
retrato falado. Ele trabalha nos correios.
6 - Dezesseis passos
do inferno
Olga não pediu
reforços para ir aos correios, não queria causar uma confusão que o permitisse
escapar.
Reconheceu de pronto
Eduardo em um dos guichês.
O retrato falado foi
bem feito.
Ele viu a detetive se
aproximar. Sabia que o assunto era com ele.
Parou de atender e
gritou para a policial.
- Você demorou muito
para evitar minha tragédia!
A policial sacou a
arma. As pessoas correram para fora.
- Não se mexa!
Ela gritou. Ele
respondeu:
- Você não tem nada
que é meu.
Colocou a maleta
sobre o guichê e saiu para ser algemado.
- Matei um inocente.
Matei um inocente...
De cima do guichê o
boneco Falcon foi a única testemunha da prisão.
Manchete no jornal A
voz das ruas.
"Coletor é
preso. Teoria de detetive é acertada."
Olga não pensou nas
condecorações que iria receber nem em medalhas.
Não lhe saía da
cabeça aquele símbolo encontrado na maleta coberta de armas.
Um símbolo de duas
letras. "I.V."
No depoimento o
coletor disse:
- Existem igrejas da
salvação. Igrejas da purificação. Então porque não uma Igreja da Vingança?
"É um
maluco."
Disseram à Olga. Mas
em sua cabeça ela imaginava outros dementes com listas. Sentiu medo.
Imaginou em algumas
listas o seu nome...
Saiu da delegacia
mais cedo.
Olga passou o dia
inteiro devolvendo coisas emprestadas de amigos.
"Será que
devolvi tudo?"
E seu medo nunca
perdeu.
7 - A praça de
alimentação
- Você é um otário!
Talvez a frase mais
ouvida na vida do adolescente Alberto.
Execrado, humilhado.
Estas palavras de pouco valiam para descrever sua vida na escola.
Desdenhavam de sua
existência e ele vagava como uma larva pelos corredores.
Nunca o chamaram para
sair. Um dia o tio de Alberto o levou ao shopping pois iria pagar contas.
Alberto estava
sentado sozinho na praça de alimentação, quando reconheceu seus algozes da
escola próximos a ele.
- Você é um otário!
E atiraram batatas
fritas nele, copos de refrigerante e outras coisas.
"Atiraram em
mim..."
O tio o encontrou
sujo e chorando.
Passou a odiar tudo.
Então recebeu a carta.
A carta continha
aquele mesmo endereço que Eduardo visitou um dia.
Após o caso do
assassino coletor os policiais se perguntavam:
- Onde ele conseguiu
tantas armas?
O coletor passou o
endereço da I.V. mas os policiais que passaram por ali somente checaram uma
casa abandonada.
Uma busca mais
detalhada, se fosse realizada, revelaria um alçapão oculto.
Este alçapão levava à
um lance de escadas e ao centro da Igreja da Vingança.
Alberto apareceu cedo
e um jovem vestido de preto guiou o adolescente.
Desceu o lance de
escadas e viu outros... aqueles estranhos homens disseram-lhe coisas. Parecia
que um tanto de informações foi inserida em seu cérebro.
Informações de ódio.
"Toda reparação
é necessária. Somente serão puros os vingados."
Começaram a assoviar
uma espécie de hino e Alberto não se lembrou do que aconteceu depois.
Retornou a si ouvindo
cantos. Lhe disseram na mente:
"Chegará em sua
casa em seis dias."
Meio tonto perguntou:
- O quê?
Lhe responderam:
"Seu material de
salvação. "
Saindo de lá ainda
ouviu:
"Marque-os
Alberto! Marque-os!"
Foi embora assoviando
o hino de sua nova crença. Chegou em casa e correu para pegar um caderno.
Fez sua lista.
Seis dias depois
Alberto recebeu sua mala.
- Você pediu algo
pela internet filho?
Respondeu:
- É material para um
trabalho que devo fazer mãe.
Começou a rir.
Passou facilmente
pelas portas do shopping, estas não tinham detectores de metais.
Subiu a escada
rolante para a praça de alimentação enquanto olhava sua lista.
Sorriu ao ver os
rostos de seus torturadores.
Parou ereto em frente
à mesa deles e esperou.
- E aí otário?
A batata frita, uma
única com ketchup, grudou em seu cabelo. Eles riam.
Ele abriu sua mala
diante dos rostos sem ação e disse:
- Vocês atiraram
coisas em mim, agora eu vou atirar! Meu Senhor; a vingança é minha!
E matou.
Matou eles, matou
crianças, matou seguranças, matou senhoras, matou velhos.
Sentiu-se vingado até
quando conseguiram pará-lo.
A única coisa que não
devolveram foi sua sanidade.
"Eu devoro sua escrita!"
Paula, leitora do Recanto das Letras em comentário publicado em 30/01/2016.
Extras e referências:
1 - Igreja da Vingança, I.V., seita fatalista e apocalíptica criada pelo autor que recruta depressivos para suas fileiras. Responsável por criaturas como Rogh, um monstro que persegue crianças más.
2 - Fita VHS baseada no seguinte filme:
3 - Olga Costa, detetive experiente deste universo, fica traumatizada após esta história.
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