Citações

"Escabroso, delirante e assustador! Perfeito!" Por Drauzio Marqezini em 12/04/2012 no site Recanto das Letras.

sábado, 15 de julho de 2017

Faixa 16




 1 – Ruptura¹


 - Eu não vou concordar nunca com essa merda!
 Segurava a foto da próxima capa incrédulo. Ela mostrava dois golfinhos nadando com uma moça de biquíni.
 Fred Fracasso não se conformava. Rud falou:
 - É mudança musical Fred. Aceita velho...
 Há algum tempo percebia que somente ele ainda andava com a jaqueta de couro surrada, os tênis detonados.
 Todos estavam diferentes.
 Cabelos lambidos da moda, detestável moda. Fred ainda era creditado com seu codinome. Mas era uma questão de tempo para que os patrões mudassem tudo.
 E a última coisa a ser mudada seria ele.
 Parecia um Sid Vicious num Coldplay.
 Uma roda e moshs num show da Enya.
 Ou seja...
 Ele era um peixe fora d'água. E desde quando aquele aquário deixou de ser seu?
 Agora ele estava ali com dois alienígenas que lembravam seus amigos.
 Onde estavam os piercings na cara de Dani Desastre? Onde estava o cabelo espetado e bizarro de Rud Ruína? Onde estavam as olheiras e os olhares vidrados dos dois?
 Fred mantinha suas olheiras e seu olhar vidrado, injetado ali.
 - Parece que nem o nome da banda se aplica mais a vocês, seus traíras!
 Fred saiu da sala. Dani o encontrou fora do prédio. Estava sentado num banco fumando um charuto vagabundo.
 A olhou com desprezo:
 - Se veio me convencer pode ir embora!
 Ela parou na frente dele:
 - Cresça Fred. Não dá para você pensar alto? Porra, não dá pra ganhar dinheiro de verdade daquele jeito.
 Ele arregalou os olhos:
 - Dani Desastre você está aí? Você disse porra. Bandas melosas não dizem porra! Eu sei que debaixo destas roupinhas da moda está uma baixista cabulosa.
 - As vezes você faz jus ao teu nome. Fred, faz isso por nós?
 - Dani... eu não faço música diluída.
 Ela sentou ao seu lado.
 - Fred, eu tenho uma filha agora. Não posso mais viver como uma porra-louca.
 - Dani.  Vocês colocaram golfinhos na capa. Golfinhos!
 Ela dá um tapa no ombro dele.
 - Para! Essa jogada vai dar certo, vai criar polêmica. É uma mudança radical cara. Eu e o Rud queremos muito isso. Até as composições estão prontas.
 - Aquelas merdas que eu ouvi na sala são as novas músicas? Eu nem participei de nada.
 Ela grita.
 - O senhor? O senhor estava com o nariz entupido. Com o braço recheado de agulhas! Não está nem aí pra nós Fred!
 Fala mais baixo.
 - Eu e o Rud fizemos até a parte das guitarras.
 - Isso está na cara. Não tinha nem um pouco de peso, nem uma sombra de distorção.
 - Nós sabíamos que não ia ser fácil com você.
 Fred traga o charuto, solta a fumaça e responde.
 - E eu sabia que este contrato com gravadora grande ia fazer isso com a gente.
 Dani segura a mão de Fred.
 - Você é nosso amigo, queremos você conosco.
 - Ou?
 - Evoluímos, aprendemos até o seu instrumento. Você entendeu, não é?
 Com o rosto em fúria.
 - Estão me chutando?
 Ela se levanta.
 - Pensa bem Fred.
 E vai embora, Fred grita.
 - Estão me chutando da banda que eu fundei!?


 A raiva habitual invadiu os sentidos e inundou o corpo. Era o que o impulsionava.
 Surgiu em uma infância tão ruim quanto o inferno e se apegou a ele. Depois de um tempo ela precisou que ele a despejasse, a descarregasse.
 A adolescência e a música. A mistura volátil que lhe foi entregue com amigos tão revoltados quanto ele.
 A banda, os codinomes e toda vertente de autodestruição possível.
 Anos de abusos e perigos. Brigas, confusões e agressões. A raiva precisa de alimento para existir.


 Dani quase morreu com uma overdose cinco anos atrás. Rud perdeu alguns dentes.
 E a raiva vai mudando de alvo, de direção.
 Raiva por ver outros amigos do mundo caótico morrendo.
 Por acabar com todo o dinheiro ganho comprando coisas que lhe faziam mal. Que roubavam sua energia.
 Dois anos atrás Dani recusou-se a dormir com ele novamente. Fred estranhou, viviam livres, sem obrigações com ninguém.
 Dani respondeu que estava apaixonada por Rud.
 E Fred sentiu raiva.
 Ela havia parado com a diversão, depois que ficou com Rud. O que Fred não percebia é que para seus amigos não havia mais diversão.
 Só sequelas.
 Para completar o quadro ela teve uma filha.
 E Fred sentiu raiva por se importar com isso. O contrato da gravadora chegou em meio ao caos da banda. Eles tinham vários fãs no submundo da música. Lotavam os shows.
 Mas os lugares para tocar escasseavam, os fãs transbordavam de raiva e quebravam os estabelecimentos.
 Os cachês mal pagavam os estragos.
 Ficaram famosos por isso.
 Uma gravadora grande cresceu os olhos, achou que a banda conseguiria o estrelato em mídias maiores.
 Assinaram o contrato.
 Com o dinheiro do adiantamento para produzir um novo disco, Rud e Dani procuraram outras sonoridades.
 E Fred se encheu de drogas.


 Meia hora depois entrou na sala de reuniões novamente. Todos esperavam uma reação explosiva.
 E ficaram surpresos com o que ele disse.
 - Tá bem! Eu quero fazer uma faixa para o disco.
 Rud e Dani olharam para o figurão da gravadora. O chefão se pronunciou:
 - Certo. Poderá ser um bônus: faixa 16.
 Fred olhou para baixo escondendo seu olhar de ódio.
 - E depois saio da banda.
 Ninguém manifestou única objeção. Saiu rápido da sala.
 Entre os dois integrantes restantes e o chefão ficou tudo acertado.
 - Será bom... um petisco para seus antigos fãs.



 2 - Sempre acontece no rock


 Não tiveram notícia de Fred por uma semana. Resolveram ir até a casa dele finalmente.
 Foi encontrado morto em seu pequeno estúdio entre a mesa de mixagem e os instrumentos. Duas décadas e meia de puro ódio.
 Estendido no chão, fedendo, com uma seringa de enfeite no braço. Com sua morte deixou a famigerada música e o marketing necessário para lançamento do novo disco da banda.
 Lucien Pinho ria sozinho.
 Era o que a gravadora mais queria. O CD antes mesmo do lançamento causou milhares de reservas nas lojas.


 3 - Notícias


 Dani lê no site de um crítico famoso:


 "O novo disco do Ruptura se torna o álbum mais esperado da década.
  O lançamento previsto para a semana que vem já é acompanhado de polêmica.
  A banda há algumas semanas sem fazer shows anunciou que trabalhava no novo disco.
  Mas na última sexta-feira morreu Fred Fracasso, o vocalista e guitarrista emblemático da banda.
  Conhecido por suas performances explosivas e declarações ácidas, foi encontrado morto por uma overdose.
  Segundo o chefão da gravadora Riff's, Lucien Pinho, este disco será o melhor de todos. Notório por seu marketing agressivo, disse também que o álbum trará também a despedida de Fred Fracasso na música.
  Sua última canção. Encontrada em seu estúdio, pronta.
  E afirmou que o encarte do disco será composto por um bilhete deixado por Fred.


  O que este solene crítico tem a dizer sobre tudo isso?


  Pelo que eu ouvi por aí, esta derradeira música é a única contribuição de Fred no disco.
  E o que podemos esperar?
  Quinze faixas de uma banda de um som duvidoso, que ninguém escutou. E uma faixa...
  Que na minha opinião vale o disco.
  Primeiro: pelo item de coleção.
  Segundo: feita pelo Fred Fracasso, que até em suas músicas mais fracas oferecia pérolas da raiva e frustração.
  Terceiro: marcará o fim de uma época no underground.


  Não adiantará nenhum crítico dizer que este disco não deve ser comprado.
  Até eu reservei o meu.
  E se você querido ouvinte for comprá-lo, compre-o para escutar a última faixa.
  Compre pelo Fred Fracasso.
  Que ao que tudo indica negará o nome depois de morto."


 Ela liga o celular, tecla para Lucien². Irada:
 - Você tem dito por aí que o Fred escreveu um bilhete!?
 Após um momento de silêncio uma voz rouca responde:
 - Boa noite pra você também Dani.
 Ela grita:
 - Responde porra!
 - Minha filha, estou neste barco faz anos. As pessoas sempre querem ver os fogos.
 - Seu filho da puta. Ele não escreveu nada.
 Sarcástico.
 - Pelo contrário. Escreveu, tocou e produziu a música que vai trazer o disco de ouro de vocês.
 As lágrimas descem pelo rosto dela.
 - Acho que isto já é o bastante. Não acha Lucien?
 Um breve silêncio:
 - Desculpe querida. Eu sei que vocês eram amigos mas pensa na tua filha, é o futuro dela! Espera um pouco...
 Um barulho abrupto no telefone, ela escuta os passos dele procurando algo. Logo a voz rouca retorna:
 - Aqui ó. Saiu no jornal hoje. Vocês são disco de ouro garantido só pelas reservas. Só pelas reservas! Escutou?
 Bia chorava no quarto, havia acordado.
 - Lucien, tenho que desligar. A Bia está chorando.
 - Tudo bem Dani. Dá um abraço no Rud e um beijo na batatinha.
 Desligou.


 Dani vai até o quarto da filha. A pega no colo e acalma. Anda pelo quarto.
 A vida de loucuras abandonada fazia sentido com aquele belo rostinho encostado no seu peito.
 - Parece uma batatinha.
 Beija a testa da pequena, a responsabilidade que chegou vinte e três anos após seu nascimento.
 Deu o beijo com seu amor, nunca daria um beijo mandado pelo maldito empresário.
 Depois que Bia dormiu, foi para o quarto de casal. Rud dormia profundamente.
 Coisa impossível anos atrás. Anos em que as noites não precisavam ser de inverno.
 Mas invernavam.


 4 - A criação


 - Vaca desleal! Desgraçado traíra!
 Fred grunhiu assim que saiu da sala de reuniões da gravadora. Mordia os lábios, cerrava os punhos.
 A mãe falava para ele quando era pequeno, que um dia ele morreria de raiva. Nada mais certo.
 A pulsação a mil, o corpo tremendo. Para alguns sintomas de um colapso.
 Para ele era a inspiração chegando.
 Precisava chegar em casa, alcançar o estúdio.
 No caminho um fã o encontrou.
 - Porra! É o Fred Fracasso! Cara, me dá um abraço.
 Detestava que o tocassem sem aviso, sem proximidade. Encontrou ali a válvula que podia abrir para não estourar.
 Arrebentou o fã a chutes e socos.


 Chegou na casa e segurou-se para não ir ao armário.
 "Trabalhar, criar, primeiro."
 Iniciando com a folha e a caneta.
 A letra saiu rápido, afiada. Era simples e eficaz.
 Enquanto escrevia pensou nos riffs da guitarra. Gravou a bateria.
 Poucos fãs sabiam que Fred tocava vários instrumentos.
 A batida era um toque que virava uma queda alucinante. O baixo ficou logicamente distorcido.
 Gravou o vocal.
 Seguiu com a montagem e edição.


 Em todos os seus poros: ódio. Nos fragmentos de memória, traição. Transbordante do corpo, do espírito para a música.


 Bateria marcando o ritmo.
 Entra o baixo distorcido.
 A guitarra prepara o pior.
 Uma parada antes do abismo.
 E o vocal entra trazendo todo o resto de novo.


 Terminou a edição, estava exausto. Precisava de algo, qualquer coisa. Abriu o armário e preparou a dose cavalar.
 Encheu-se de cocaína.
 Porque deu tudo de si, sua fúria, para a música.
 E estava vazio.


 5 - Eu odeio tudo!


 Era dia do lançamento do disco.
 A festa foi organizada por Lucien numa enorme loja de discos.
 Presentes, Rud Ruína e Dani Desastre.
 Lucien, o rei do marketing, programou o lançamento da música single na rádio de maior poder do estado para as sete da noite.
 Dani o puxou de canto quando ele parou de falar com a imprensa que lotava o lugar.
 - Qual vai ser a música single?
 Lucien Pinho sorriu:
 - Dani, mantive segredo mas preciso mesmo dizer?
 Um repórter do jornal "A voz das ruas" roubou a atenção de Lucien.
 - Senhor Lucien, a que horas os discos serão vendidos?
 Lucien olhou para o relógio de pulso.
 - Exatamente daqui dez minutos.
 Era dez para as sete.
 Uma multidão aguardava do lado de fora da loja.


 Rud disse para Dani:
 - Ainda bem que deixamos a batatinha em casa com a babá. Imagine como ela ficaria assustada com essa barulheira toda!
 Dani tentou sorrir. Rud segurou delicadamente seu rosto.
 - O que foi?
 Ela respondeu triste.
 - Isso está errado Rud. Você sabe muito bem que Fred não escreveu bilhete nenhum. Colocar no encarte uma merda de coisa que o Lucien escreveu? É nojento!
 Ele aproxima o rosto.
 - Olha pra mim!
 Ela o olhou nos olhos.
 - Deixa passar esta maré. Eu e você vamos para outra gravadora, bem longe desse filho da puta.
 E a beijou.
 - Eu amo você Dani.


 Faltavam dois minutos para as sete. Lucien anunciou:
 - Senhoras e senhores, o Ruptura apresenta a vocês a música da década.
 As portas foram abertas, os fãs misturaram-se aos jornalistas. As caixas de som do local sintonizavam a poderosa rádio.
 Um DJ anunciava:
 - A música mais esperada, a última de Fred Fracasso. Numa das maiores jogadas de todos os tempos. A rádio recebeu o disco somente a poucos momentos. A gravadora conseguiu evitar o vazamento na internet. Nem este que vos fala ouviu o som ainda. Vamos curtir juntos o Ruptura com: "Eu odeio tudo!".


 Bateria marcando o ritmo.
 Entra o baixo distorcido.
 A guitarra prepara o pior.
 Uma parada antes do abismo.
 E o vocal entra trazendo todo o resto de novo.


 "Eu odeio tudo! E quero vomitar!
  Os corpos que escondi vocês não vão achar.

  Eu odeio você! Quero te ver morrer.
  Vou te cortar a garganta e te fazer sofrer."


 Gritado, ritmado, simples. Perfeito rock, infame.


 A energia pulsante começou com Rud, ele agitava a cabeça freneticamente de olhos injetados.
 Sentia uma sensação inexplicável, a música o inundava. Precisava transmitir aquilo e Lucien está bem na sua frente.


 Rud pulou sobre Lucien e começou a bater no rosto gordo.
 A tarefa não era fácil, Lucien conseguiu ferir seu olho direito com os dedos e seus braços com mordidas.
 Rud só parou de bater quando Lucien parou. De respirar.
 Voltou-se com os olhos insanos e viu Dani.
 Ela dava cotoveladas em um jornalista, o sujeito estava com o rosto todo ferido. Ninguém se aguentava no lugar, era preciso transmitir a mensagem de Fred.
 O repórter espancado por Dani caiu em meio à multidão e foi recebido por chutes de quem estava por perto.


 Na rádio o DJ achou a música fantástica.
 Apertou o botão de repeat e tirou o revólver que sempre andava com ele da cintura.
 Os olhos fixos.
 Saiu do estúdio e encontrou o pessoal da produção em frangalhos. A música tocava nos corredores da rádio.
 O office-boy batia com um extintor de incêndio na cabeça da manda-chuva da rádio e foi esfaqueado pelo apresentador do programa da paz, que apresentava de madrugada.
 Haviam umas dez pessoas por ali.
 O DJ abriu fogo em cima de todos.


 Dani contraiu o rosto numa careta, foi tudo muito rápido quando Rud veio em sua direção.
 Dez minutos atrás ele havia dito que a amava.
 Mas a nova mensagem era mais forte. Ele cuspiu em cima dela:
 - Eu odeio tudo!
 E lhe deu um fortíssimo soco.


 Dani caiu rolando atrás das prateleiras. Rud tentou investir contra ela mas uma cadeirada acertou sua cabeça.
 Uma moça com maquiagem carregada mordia o nariz de um homem que socava suas costelas.
 Um homem obeso estava em chamas dentro da loja e enchia o local com um cheiro nauseante e doce.
 Um garoto enfiava algo que parecia um pen-drive no olho de um homem caído no chão.


 Quando se levantou Dani só ouvia um zumbido nos ouvidos, cortesia do soco que levou.
 Soube instantaneamente o que havia ocorrido.
 A música.
 O que Fred realmente escreveu como bilhete.
 Ao seu redor todos matavam, todos odiavam tudo, ninguém sentia medo.
 Ela correu para o banheiro de funcionários, no trajeto um homem tentou agarrá-la e ela esquivou-se.
 Estava em pânico pensava na filha. Será que Bia estava bem?
 Trancou a porta do banheiro e sentiu a saraivada de socos e chutes de alguém tremerem a madeira.
 A porta era atacada violentamente, iria ceder.
 Com o incômodo zumbido aos ouvidos subiu até a pequena janela do banheiro.
 Não escutou a porta cedendo.
 Estava com uma das pernas para fora da janela quando o homem agarrou seus cabelos. Ela caiu em cima do vaso sanitário.
 Bia.
 As mãos do barbudo apertaram seu pescoço. Ela não pensou duas vezes.
 Apertou as bolas do sujeito com toda sua força. Ele diminuiu a pressão sobre o pescoço dela.
 Dani lembrou-se de um filme e deu um soco forte na garganta do homem. Algo quebrou ali.
 Ele engasgou caindo de lado. Morreu.
 Rapidamente Dani saltou para a rua.
 Entrou no seu carro que estava nos fundos da loja. Rud não sabia dirigir.
 E nem sabia mais nada, estava morto lá dentro da loja.


 A música estava tocando nas casas, a música ganhava o asfalto nos rádios dos carros.
 O sangue corria na cidade.


 Dani teve de atropelar um homem que atirava tijolos em seu carro. O homem possuía fones nos ouvidos.
 O zumbido era insistente nos seus.
 "Acho que vou ficar surda".


 Parou o carro de qualquer jeito e pegou uma pá que ficava na frente da garagem. Entrou na casa.
 Encontrou a babá no corredor.
 Levantou a pá ameaçadoramente para a babá.
 "Talvez ela esteja como eles".
 Dani não ouvia o que a mulher dizia.
 Bia.
 Em desespero apontou a porta da saída para a babá que saiu correndo para a rua.
 Bia.
 Foi até o quarto da bebê. Bia dormia como um anjo, Dani começou a chorar, com a mão sentiu a respiração calma da filha.
 Viu um CD próximo do pequeno rádio ligado no quarto da pequena.
 "Dorme nenê - Músicas infantis".
 Ela sorriu e pegou Bia no colo.


 Próximo dali um carro a toda velocidade bateu em um muro. O motorista morreu na hora.


 Com Bia no colo pensava na responsabilidade de ser mãe. O zumbido nos ouvidos era irritante.
 E por vezes era chato a responsabilidade. Mas ter uma filha compensava tudo.
 O zumbido passava.
 É lógico que por alguns momentos tinha vontade de jogar as responsabilidades fora.
 Jogar fora.
 Reconheceu a música de Fred tocando pela janela.


 O carro batido no muro tinha o rádio a todo volume.
 E cessou de repente. Alguém conseguiu parar a execução da rádio.
 Mas aquele momento foi o suficiente.


 Assim que a música foi cortada, Dani lembrou-se que Bia estava em seu colo.
 O bebê não estava mais em seus braços.
 Seus olhos encontraram a filha distante no chão.
 - Ahhhhhhh... Bia, Bia!!!!!
 Ela havia atirado a filha na parede.
 Do outro lado da sala.


 6 - Num lugar distante


 Cinco meses depois.
 Três soldados e um sargento interrogavam dois homens barbudos algemados.
 Forçavam que os prisioneiros olhassem uma janela de vidro que mostrava outra sala. No interior dois homens sem algemas.
 O sargento pergunta para um dos soldados:
 - A sala está isolada acusticamente?
 O soldado responde:
 - Sim senhor!
 O sargento volta-se para os dois prisioneiros apavorados que observavam os dois homens pela janela de vidro.
 - É bom falarem o que sabem ou os próximos serão vocês.
 O sargento faz sinal para o soldado que aperta um botão.
 Na sala fechada a faixa 16³ encontra ouvidos estrangeiros.

 Pouco depois, o sangue espirra no vidro.




"Cheio de influências do universo pop, de lendas urbanas; bem anos 90! Não à toa de gosto tanto de seus contos! Abraços, cara! Gostei muito!"
Fabiano Rodrigues, talentoso escritor do site Recanto das Letras.


Extras e referências:

1 - Ruptura: Banda agressiva com forte influência punk, hardcore e grunge. Fred Fracasso, vocal e guitarra, Dani Desastre, baixo e vocais e Rud Ruína: bateria e vocais.

2 - Lucien Pinho: Famoso produtor e empresário do meio musical, Lucien também é um dos Titãs da Tártaro cia, corporação maléfica representada em vários contos do autor que possui ramificações em vários acontecimentos tenebrosos e possui ligações com o Clube do Escorpião e outras organizações.

3 - Faixa 16, sete na somatória, Ruptura possui sete letras. Representa também a Casa de Deus(La Maison Dieu) carta caótica do Tarô.

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