1 – Ruptura¹
- Eu não vou
concordar nunca com essa merda!
Segurava a foto da
próxima capa incrédulo. Ela mostrava dois golfinhos nadando com uma moça de
biquíni.
Fred Fracasso não se
conformava. Rud falou:
- É mudança musical
Fred. Aceita velho...
Há algum tempo
percebia que somente ele ainda andava com a jaqueta de couro surrada, os tênis
detonados.
Todos estavam
diferentes.
Cabelos lambidos da
moda, detestável moda. Fred ainda era creditado com seu codinome. Mas era uma
questão de tempo para que os patrões mudassem tudo.
E a última coisa a
ser mudada seria ele.
Parecia um Sid
Vicious num Coldplay.
Uma roda e moshs num
show da Enya.
Ou seja...
Ele era um peixe fora
d'água. E desde quando aquele aquário deixou de ser seu?
Agora ele estava ali
com dois alienígenas que lembravam seus amigos.
Onde estavam os
piercings na cara de Dani Desastre? Onde estava o cabelo espetado e bizarro de
Rud Ruína? Onde estavam as olheiras e os olhares vidrados dos dois?
Fred mantinha suas
olheiras e seu olhar vidrado, injetado ali.
- Parece que nem o
nome da banda se aplica mais a vocês, seus traíras!
Fred saiu da sala.
Dani o encontrou fora do prédio. Estava sentado num banco fumando um charuto
vagabundo.
A olhou com desprezo:
- Se veio me
convencer pode ir embora!
Ela parou na frente
dele:
- Cresça Fred. Não dá
para você pensar alto? Porra, não dá pra ganhar dinheiro de verdade daquele
jeito.
Ele arregalou os
olhos:
- Dani Desastre você
está aí? Você disse porra. Bandas melosas não dizem porra! Eu sei que debaixo
destas roupinhas da moda está uma baixista cabulosa.
- As vezes você faz
jus ao teu nome. Fred, faz isso por nós?
- Dani... eu não faço
música diluída.
Ela sentou ao seu
lado.
- Fred, eu tenho uma
filha agora. Não posso mais viver como uma porra-louca.
- Dani. Vocês colocaram golfinhos na capa. Golfinhos!
Ela dá um tapa no
ombro dele.
- Para! Essa jogada
vai dar certo, vai criar polêmica. É uma mudança radical cara. Eu e o Rud
queremos muito isso. Até as composições estão prontas.
- Aquelas merdas que
eu ouvi na sala são as novas músicas? Eu nem participei de nada.
Ela grita.
- O senhor? O senhor
estava com o nariz entupido. Com o braço recheado de agulhas! Não está nem aí
pra nós Fred!
Fala mais baixo.
- Eu e o Rud fizemos
até a parte das guitarras.
- Isso está na cara.
Não tinha nem um pouco de peso, nem uma sombra de distorção.
- Nós sabíamos que
não ia ser fácil com você.
Fred traga o charuto,
solta a fumaça e responde.
- E eu sabia que este
contrato com gravadora grande ia fazer isso com a gente.
Dani segura a mão de
Fred.
- Você é nosso amigo,
queremos você conosco.
- Ou?
- Evoluímos,
aprendemos até o seu instrumento. Você entendeu, não é?
Com o rosto em fúria.
- Estão me chutando?
Ela se levanta.
- Pensa bem Fred.
E vai embora, Fred
grita.
- Estão me chutando
da banda que eu fundei!?
A raiva habitual
invadiu os sentidos e inundou o corpo. Era o que o impulsionava.
Surgiu em uma
infância tão ruim quanto o inferno e se apegou a ele. Depois de um tempo ela
precisou que ele a despejasse, a descarregasse.
A adolescência e a
música. A mistura volátil que lhe foi entregue com amigos tão revoltados quanto
ele.
A banda, os codinomes
e toda vertente de autodestruição possível.
Anos de abusos e
perigos. Brigas, confusões e agressões. A raiva precisa de alimento para
existir.
Dani quase morreu com
uma overdose cinco anos atrás. Rud perdeu alguns dentes.
E a raiva vai mudando
de alvo, de direção.
Raiva por ver outros
amigos do mundo caótico morrendo.
Por acabar com todo o
dinheiro ganho comprando coisas que lhe faziam mal. Que roubavam sua energia.
Dois anos atrás Dani
recusou-se a dormir com ele novamente. Fred estranhou, viviam livres, sem
obrigações com ninguém.
Dani respondeu que
estava apaixonada por Rud.
E Fred sentiu raiva.
Ela havia parado com
a diversão, depois que ficou com Rud. O que Fred não percebia é que para seus
amigos não havia mais diversão.
Só sequelas.
Para completar o
quadro ela teve uma filha.
E Fred sentiu raiva
por se importar com isso. O contrato da gravadora chegou em meio ao caos da
banda. Eles tinham vários fãs no submundo da música. Lotavam os shows.
Mas os lugares para
tocar escasseavam, os fãs transbordavam de raiva e quebravam os
estabelecimentos.
Os cachês mal pagavam
os estragos.
Ficaram famosos por
isso.
Uma gravadora grande
cresceu os olhos, achou que a banda conseguiria o estrelato em mídias maiores.
Assinaram o contrato.
Com o dinheiro do
adiantamento para produzir um novo disco, Rud e Dani procuraram outras
sonoridades.
E Fred se encheu de
drogas.
Meia hora depois
entrou na sala de reuniões novamente. Todos esperavam uma reação explosiva.
E ficaram surpresos
com o que ele disse.
- Tá bem! Eu quero
fazer uma faixa para o disco.
Rud e Dani olharam
para o figurão da gravadora. O chefão se pronunciou:
- Certo. Poderá ser
um bônus: faixa 16.
Fred olhou para baixo
escondendo seu olhar de ódio.
- E depois saio da
banda.
Ninguém manifestou
única objeção. Saiu rápido da sala.
Entre os dois
integrantes restantes e o chefão ficou tudo acertado.
- Será bom... um
petisco para seus antigos fãs.
2 - Sempre acontece
no rock
Não tiveram notícia de
Fred por uma semana. Resolveram ir até a casa dele finalmente.
Foi encontrado morto
em seu pequeno estúdio entre a mesa de mixagem e os instrumentos. Duas décadas
e meia de puro ódio.
Estendido no chão,
fedendo, com uma seringa de enfeite no braço. Com sua morte deixou a famigerada
música e o marketing necessário para lançamento do novo disco da banda.
Lucien Pinho ria
sozinho.
Era o que a gravadora
mais queria. O CD antes mesmo do lançamento causou milhares de reservas nas
lojas.
3 - Notícias
Dani lê no site de um
crítico famoso:
"O novo disco do
Ruptura se torna o álbum mais esperado da década.
O lançamento
previsto para a semana que vem já é acompanhado de polêmica.
A banda há algumas
semanas sem fazer shows anunciou que trabalhava no novo disco.
Mas na última
sexta-feira morreu Fred Fracasso, o vocalista e guitarrista emblemático da
banda.
Conhecido por suas
performances explosivas e declarações ácidas, foi encontrado morto por uma
overdose.
Segundo o chefão da
gravadora Riff's, Lucien Pinho, este disco será o melhor de todos. Notório por
seu marketing agressivo, disse também que o álbum trará também a despedida de
Fred Fracasso na música.
Sua última canção.
Encontrada em seu estúdio, pronta.
E afirmou que o
encarte do disco será composto por um bilhete deixado por Fred.
O que este solene
crítico tem a dizer sobre tudo isso?
Pelo que eu ouvi por
aí, esta derradeira música é a única contribuição de Fred no disco.
E o que podemos esperar?
Quinze faixas de uma
banda de um som duvidoso, que ninguém escutou. E uma faixa...
Que na minha opinião
vale o disco.
Primeiro: pelo item
de coleção.
Segundo: feita pelo
Fred Fracasso, que até em suas músicas mais fracas oferecia pérolas da raiva e
frustração.
Terceiro: marcará o
fim de uma época no underground.
Não adiantará nenhum
crítico dizer que este disco não deve ser comprado.
Até eu reservei o
meu.
E se você querido
ouvinte for comprá-lo, compre-o para escutar a última faixa.
Compre pelo Fred
Fracasso.
Que ao que tudo
indica negará o nome depois de morto."
Ela liga o celular,
tecla para Lucien². Irada:
- Você tem dito por
aí que o Fred escreveu um bilhete!?
Após um momento de
silêncio uma voz rouca responde:
- Boa noite pra você
também Dani.
Ela grita:
- Responde porra!
- Minha filha, estou
neste barco faz anos. As pessoas sempre querem ver os fogos.
- Seu filho da puta.
Ele não escreveu nada.
Sarcástico.
- Pelo contrário.
Escreveu, tocou e produziu a música que vai trazer o disco de ouro de vocês.
As lágrimas descem
pelo rosto dela.
- Acho que isto já é
o bastante. Não acha Lucien?
Um breve silêncio:
- Desculpe querida.
Eu sei que vocês eram amigos mas pensa na tua filha, é o futuro dela! Espera um
pouco...
Um barulho abrupto no
telefone, ela escuta os passos dele procurando algo. Logo a voz rouca retorna:
- Aqui ó. Saiu no
jornal hoje. Vocês são disco de ouro garantido só pelas reservas. Só pelas reservas!
Escutou?
Bia chorava no
quarto, havia acordado.
- Lucien, tenho que
desligar. A Bia está chorando.
- Tudo bem Dani. Dá
um abraço no Rud e um beijo na batatinha.
Desligou.
Dani vai até o quarto
da filha. A pega no colo e acalma. Anda pelo quarto.
A vida de loucuras
abandonada fazia sentido com aquele belo rostinho encostado no seu peito.
- Parece uma
batatinha.
Beija a testa da
pequena, a responsabilidade que chegou vinte e três anos após seu nascimento.
Deu o beijo com seu
amor, nunca daria um beijo mandado pelo maldito empresário.
Depois que Bia
dormiu, foi para o quarto de casal. Rud dormia profundamente.
Coisa impossível anos
atrás. Anos em que as noites não precisavam ser de inverno.
Mas invernavam.
4 - A criação
- Vaca desleal!
Desgraçado traíra!
Fred grunhiu assim
que saiu da sala de reuniões da gravadora. Mordia os lábios, cerrava os punhos.
A mãe falava para ele
quando era pequeno, que um dia ele morreria de raiva. Nada mais certo.
A pulsação a mil, o
corpo tremendo. Para alguns sintomas de um colapso.
Para ele era a
inspiração chegando.
Precisava chegar em
casa, alcançar o estúdio.
No caminho um fã o
encontrou.
- Porra! É o Fred
Fracasso! Cara, me dá um abraço.
Detestava que o
tocassem sem aviso, sem proximidade. Encontrou ali a válvula que podia abrir
para não estourar.
Arrebentou o fã a
chutes e socos.
Chegou na casa e
segurou-se para não ir ao armário.
"Trabalhar,
criar, primeiro."
Iniciando com a folha
e a caneta.
A letra saiu rápido,
afiada. Era simples e eficaz.
Enquanto escrevia
pensou nos riffs da guitarra. Gravou a bateria.
Poucos fãs sabiam que
Fred tocava vários instrumentos.
A batida era um toque
que virava uma queda alucinante. O baixo ficou logicamente distorcido.
Gravou o vocal.
Seguiu com a montagem
e edição.
Em todos os seus
poros: ódio. Nos fragmentos de memória, traição. Transbordante do corpo, do
espírito para a música.
Bateria marcando o
ritmo.
Entra o baixo
distorcido.
A guitarra prepara o
pior.
Uma parada antes do
abismo.
E o vocal entra
trazendo todo o resto de novo.
Terminou a edição,
estava exausto. Precisava de algo, qualquer coisa. Abriu o armário e preparou a
dose cavalar.
Encheu-se de cocaína.
Porque deu tudo de
si, sua fúria, para a música.
E estava vazio.
5 - Eu odeio tudo!
Era dia do lançamento
do disco.
A festa foi
organizada por Lucien numa enorme loja de discos.
Presentes, Rud Ruína
e Dani Desastre.
Lucien, o rei do
marketing, programou o lançamento da música single na rádio de maior poder do
estado para as sete da noite.
Dani o puxou de canto
quando ele parou de falar com a imprensa que lotava o lugar.
- Qual vai ser a
música single?
Lucien Pinho sorriu:
- Dani, mantive
segredo mas preciso mesmo dizer?
Um repórter do jornal
"A voz das ruas" roubou a atenção de Lucien.
- Senhor Lucien, a
que horas os discos serão vendidos?
Lucien olhou para o
relógio de pulso.
- Exatamente daqui
dez minutos.
Era dez para as sete.
Uma multidão
aguardava do lado de fora da loja.
Rud disse para Dani:
- Ainda bem que
deixamos a batatinha em casa com a babá. Imagine como ela ficaria assustada com
essa barulheira toda!
Dani tentou sorrir.
Rud segurou delicadamente seu rosto.
- O que foi?
Ela respondeu triste.
- Isso está errado
Rud. Você sabe muito bem que Fred não escreveu bilhete nenhum. Colocar no
encarte uma merda de coisa que o Lucien escreveu? É nojento!
Ele aproxima o rosto.
- Olha pra mim!
Ela o olhou nos
olhos.
- Deixa passar esta
maré. Eu e você vamos para outra gravadora, bem longe desse filho da puta.
E a beijou.
- Eu amo você Dani.
Faltavam dois minutos
para as sete. Lucien anunciou:
- Senhoras e
senhores, o Ruptura apresenta a vocês a música da década.
As portas foram
abertas, os fãs misturaram-se aos jornalistas. As caixas de som do local
sintonizavam a poderosa rádio.
Um DJ anunciava:
- A música mais
esperada, a última de Fred Fracasso. Numa das maiores jogadas de todos os
tempos. A rádio recebeu o disco somente a poucos momentos. A gravadora
conseguiu evitar o vazamento na internet. Nem este que vos fala ouviu o som
ainda. Vamos curtir juntos o Ruptura com: "Eu odeio tudo!".
Bateria marcando o
ritmo.
Entra o baixo
distorcido.
A guitarra prepara o
pior.
Uma parada antes do
abismo.
E o vocal entra
trazendo todo o resto de novo.
"Eu odeio tudo!
E quero vomitar!
Os corpos que
escondi vocês não vão achar.
Eu odeio você! Quero
te ver morrer.
Vou te cortar a
garganta e te fazer sofrer."
Gritado, ritmado,
simples. Perfeito rock, infame.
A energia pulsante
começou com Rud, ele agitava a cabeça freneticamente de olhos injetados.
Sentia uma sensação
inexplicável, a música o inundava. Precisava transmitir aquilo e Lucien está
bem na sua frente.
Rud pulou sobre
Lucien e começou a bater no rosto gordo.
A tarefa não era
fácil, Lucien conseguiu ferir seu olho direito com os dedos e seus braços com
mordidas.
Rud só parou de bater
quando Lucien parou. De respirar.
Voltou-se com os
olhos insanos e viu Dani.
Ela dava cotoveladas
em um jornalista, o sujeito estava com o rosto todo ferido. Ninguém se
aguentava no lugar, era preciso transmitir a mensagem de Fred.
O repórter espancado
por Dani caiu em meio à multidão e foi recebido por chutes de quem estava por
perto.
Na rádio o DJ achou a
música fantástica.
Apertou o botão de
repeat e tirou o revólver que sempre andava com ele da cintura.
Os olhos fixos.
Saiu do estúdio e
encontrou o pessoal da produção em frangalhos. A música tocava nos corredores
da rádio.
O office-boy batia
com um extintor de incêndio na cabeça da manda-chuva da rádio e foi esfaqueado
pelo apresentador do programa da paz, que apresentava de madrugada.
Haviam umas dez
pessoas por ali.
O DJ abriu fogo em
cima de todos.
Dani contraiu o rosto
numa careta, foi tudo muito rápido quando Rud veio em sua direção.
Dez minutos atrás ele
havia dito que a amava.
Mas a nova mensagem
era mais forte. Ele cuspiu em cima dela:
- Eu odeio tudo!
E lhe deu um
fortíssimo soco.
Dani caiu rolando
atrás das prateleiras. Rud tentou investir contra ela mas uma cadeirada acertou
sua cabeça.
Uma moça com
maquiagem carregada mordia o nariz de um homem que socava suas costelas.
Um homem obeso estava
em chamas dentro da loja e enchia o local com um cheiro nauseante e doce.
Um garoto enfiava
algo que parecia um pen-drive no olho de um homem caído no chão.
Quando se levantou
Dani só ouvia um zumbido nos ouvidos, cortesia do soco que levou.
Soube instantaneamente
o que havia ocorrido.
A música.
O que Fred realmente
escreveu como bilhete.
Ao seu redor todos
matavam, todos odiavam tudo, ninguém sentia medo.
Ela correu para o
banheiro de funcionários, no trajeto um homem tentou agarrá-la e ela esquivou-se.
Estava em pânico
pensava na filha. Será que Bia estava bem?
Trancou a porta do
banheiro e sentiu a saraivada de socos e chutes de alguém tremerem a madeira.
A porta era atacada
violentamente, iria ceder.
Com o incômodo
zumbido aos ouvidos subiu até a pequena janela do banheiro.
Não escutou a porta
cedendo.
Estava com uma das
pernas para fora da janela quando o homem agarrou seus cabelos. Ela caiu em
cima do vaso sanitário.
Bia.
As mãos do barbudo
apertaram seu pescoço. Ela não pensou duas vezes.
Apertou as bolas do
sujeito com toda sua força. Ele diminuiu a pressão sobre o pescoço dela.
Dani lembrou-se de um
filme e deu um soco forte na garganta do homem. Algo quebrou ali.
Ele engasgou caindo
de lado. Morreu.
Rapidamente Dani
saltou para a rua.
Entrou no seu carro
que estava nos fundos da loja. Rud não sabia dirigir.
E nem sabia mais
nada, estava morto lá dentro da loja.
A música estava
tocando nas casas, a música ganhava o asfalto nos rádios dos carros.
O sangue corria na
cidade.
Dani teve de
atropelar um homem que atirava tijolos em seu carro. O homem possuía fones nos
ouvidos.
O zumbido era
insistente nos seus.
"Acho que vou
ficar surda".
Parou o carro de
qualquer jeito e pegou uma pá que ficava na frente da garagem. Entrou na casa.
Encontrou a babá no
corredor.
Levantou a pá
ameaçadoramente para a babá.
"Talvez ela
esteja como eles".
Dani não ouvia o que
a mulher dizia.
Bia.
Em desespero apontou
a porta da saída para a babá que saiu correndo para a rua.
Bia.
Foi até o quarto da
bebê. Bia dormia como um anjo, Dani começou a chorar, com a mão sentiu a
respiração calma da filha.
Viu um CD próximo do
pequeno rádio ligado no quarto da pequena.
"Dorme nenê -
Músicas infantis".
Ela sorriu e pegou
Bia no colo.
Próximo dali um carro
a toda velocidade bateu em um muro. O motorista morreu na hora.
Com Bia no colo
pensava na responsabilidade de ser mãe. O zumbido nos ouvidos era irritante.
E por vezes era chato
a responsabilidade. Mas ter uma filha compensava tudo.
O zumbido passava.
É lógico que por
alguns momentos tinha vontade de jogar as responsabilidades fora.
Jogar fora.
Reconheceu a música
de Fred tocando pela janela.
O carro batido no
muro tinha o rádio a todo volume.
E cessou de repente.
Alguém conseguiu parar a execução da rádio.
Mas aquele momento
foi o suficiente.
Assim que a música
foi cortada, Dani lembrou-se que Bia estava em seu colo.
O bebê não estava
mais em seus braços.
Seus olhos
encontraram a filha distante no chão.
- Ahhhhhhh... Bia,
Bia!!!!!
Ela havia atirado a
filha na parede.
Do outro lado da
sala.
6 - Num lugar
distante
Cinco meses depois.
Três soldados e um
sargento interrogavam dois homens barbudos algemados.
Forçavam que os
prisioneiros olhassem uma janela de vidro que mostrava outra sala. No interior
dois homens sem algemas.
O sargento pergunta
para um dos soldados:
- A sala está isolada
acusticamente?
O soldado responde:
- Sim senhor!
O sargento volta-se
para os dois prisioneiros apavorados que observavam os dois homens pela janela
de vidro.
- É bom falarem o que
sabem ou os próximos serão vocês.
O sargento faz sinal
para o soldado que aperta um botão.
Na sala fechada a
faixa 16³ encontra ouvidos estrangeiros.
Pouco depois, o
sangue espirra no vidro.
"Cheio de influências do universo pop, de lendas urbanas; bem anos 90! Não à toa de gosto tanto de seus contos! Abraços, cara! Gostei muito!"
Fabiano Rodrigues, talentoso escritor do site Recanto das Letras.
Extras e referências:
1 - Ruptura: Banda agressiva com forte influência punk, hardcore e grunge. Fred Fracasso, vocal e guitarra, Dani Desastre, baixo e vocais e Rud Ruína: bateria e vocais.
2 - Lucien Pinho: Famoso produtor e empresário do meio musical, Lucien também é um dos Titãs da Tártaro cia, corporação maléfica representada em vários contos do autor que possui ramificações em vários acontecimentos tenebrosos e possui ligações com o Clube do Escorpião e outras organizações.
3 - Faixa 16, sete na somatória, Ruptura possui sete letras. Representa também a Casa de Deus(La Maison Dieu) carta caótica do Tarô.
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