Estava com vontade de
usar a tesoura. Quando a retirou da caixa, o homem amarrado à mesa começou a
gritar novamente.
Parecia ter uma
resistência enorme naqueles pulmões.
Ele introduziu as
lâminas da tesoura nas narinas do homem e fechou.
O jato de sangue
atingiu sua mão direita em satisfação breve.
Frederico precisava
de férias¹.
Para sair daquela
rotina de cortes e ferimentos imaginou uma bela praia. Camarões fritos, cerveja
gelada e uma brisa de fim de tarde. Crianças fazendo castelos de areia.
Sorrisos presentes em rostos de todas as idades. E, infelizmente, sempre temos
de voltar.
O sangue invadia os
olhos do homem na mesa. Frederico limpou com uma toalha o excesso, era preciso
que ele visse o que acontecia. Sem a conexão não haveria sentido em nada
daquilo. Retirou uma gilete da caixa, com uma das mãos segurou o pênis do homem
e foi lhe abrindo a uretra. O trabalho ficou difícil com o vermelho que
espirrava. O homem desmaiou, típico.
Outro lugar bom para
as férias seria o campo. Tardes de temperatura agradável. Conversas na varanda
e ótima comida.
Pães de queijo e café
com leite, bolo de fubá e requeijão. Dias que pareciam mais longos.
Dessa vez o sujeito
demorou a acordar, Frederico fumou um cigarro pela metade e apagou no pé do
homem. O pequeno martelo era o próximo, com pancadas certeiras quebrava os
dentes. Durante a quebra dos incisivos superiores o homem engasgou com os
pedaços.
Frederico parou um
momento, o sujeito virou a cabeça para o lado e vomitou.
Vômito é comum nas
viagens de navio. Boa grana gera bom atendimento, interessantes cruzeiros,
mulheres de outras nacionalidades. Bebedeiras com estranhos vendo o sol a pino.
Os olhos ficariam por
último, fazer ver o que seria feito tem um efeito tão devastador quanto a dor
infligida. O pequeno martelo foi usado para atravessar pregos na mandíbula. E
ainda havia vida naquele homem, vida quente que encheu a mesa de excrementos.
Em seu logro tentava manter os olhos fechados.
Antigamente ia aos
parques de diversão, fechava os olhos na descida da montanha russa. Tudo
parecia pior por um momento, mas o prazer de desafiar a morte era excitante.
Sempre que saia dos parques conseguia sexo fácil, os humanos compensam os medos
vencidos. E no fim das noites de diversão fechava os olhos novamente gozando,
"a pequena morte".
Frederico notou que o
homem mantinha os olhos fechados. Não! Não podia deixá-lo morrer agora. Ele lia
bastante, buscava ideias para evitar
aborrecimentos. Talvez em algum livro, em algum gibi ou filme que viu...
O fato é que estava
com o alicate de unhas nas mãos. Puxou a pele das pálpebras e começou a cortar.
Na mesa o arremedo de gente fazia barulho, buscando o fim.
O fim das férias
sempre é desesperador. Abrir os olhos e abraçar seu meio é horrível. Não poder
fechá-los deixava tudo mais brutal. Repetição de cortes, de dor extrema.
Adriele havia pedido
que ele tirasse as férias atrasadas.
"Meu amor,
preciso continuar o trabalho mais um tempo."
Se houvesse tirado as
férias não teria feito aquele caminho para ir para casa, se estivesse de férias
viajaria com sua bela ruiva. Nas férias não conheceria Frederico.
Que parecia cansado,
entediado, cumpria uma rotina segurando o prego do tamanho do antebraço de
Danilo. Danilo, o homem na mesa, não podia fechar os olhos enquanto Frederico
posicionava o prego em cima de seu coração. Na outra mão segurava o martelo
maior. Buscava a conexão, olhando Danilo nos olhos.
"Onde a ruiva
queria ir?"
Danilo via Adriele.
"Para a
praia?"
E brindavam com a
cerveja gelada de frente para o mar.
"Podia levar ela
ao campo."
Ela sorria comendo
preguiçosamente, sentiam o cheiro do mato.
"Ou... um
cruzeiro comigo."
Bebericavam com
desconhecidos.
"Mas perto de
casa tem um parque de diversão... poderíamos começar por ali."
E desciam juntos a
montanha russa com promessas íntimas.
"Não; a ruiva
sempre quis ir ao Egito!"
Sobrevoavam a terra
exótica. Feliz de braços dados com sua ruiva na descida até apertou a mão do comissário
de bordo.
- Obrigado.
Frederico apontava o
prego sobre o peito de Danilo e esperava qualquer coisa como:
"Pelo amor de
Deus, pare!"
"Eu faço qualquer coisa", "eu tenho
dinheiro".
Mas não obrigado,
nunca obrigado.
Continuou buscando a
conexão nos olhos martelando o prego. Mas Danilo não estava e nem esteve ali
completamente.
Limpando a mesa após
o esquartejamento, Frederico não entendia a falta de prazer.
Stress? Talvez².
Precisava tirar
férias o quanto antes.
"Barone, horror em alto nível!!"
Vargas, usuário do site Recanto das Letras em comentário postado em 01/04/2012.
Extras e referências:
1 - Frederico, assassino metódico que encontrou seu caminho na seita Sem laços, sem remorso, presente em outros contos, o título do conto remete a crises de stress enfrentadas pelo autor.
2 - Aqui novamente a referência que permeia sua obra: uma crítica ao trabalho como o conhecemos.
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