- Como
conseguiu se foder tanto?
Pergunta o
barman, o Pensador do balcão pressionou a testa que sangrava.
- Falando a
verdade!
Willy riu:
- Sua
verdade. Como sempre, conte do começo.
- Bom...
eles iriam destruir o Casulo.
“Entraram
após seu culto, sabe como é. Após a pregação vem a bebedeira. A discussão
começou após dois deles discordarem sobre o jeito de se criar os filhos. A
turma se dividiu e eu tinha um “trabalho” a zelar. Começaram a se insultar,
gritavam e assustavam os clientes “normais” do bar. Saltei do banco e entrei na
treta.
- Ei. Sabe o
que todos nós temos em comum? Somos marionetes do que vocês chamam de mal.
E quase
levei um soco, logo de cara.
- Deixem-me
explicar, sem citar nomes. Um deles é um camaleão, ele é o que todo homem quer
ser. Comer mulheres a vida toda, todas lindas diga-se de passagem, fazer isso
sem proteção alguma. Ter estilo e permissão para matar, mais poder do que
qualquer presidente, podendo iniciar guerras mundiais. Ah, ser lindo em
qualquer de suas representações bebericando seu drink batido, não mexido.
Imaginem carregar armas de grande conteúdo bélico em suas roupas e aplicativos,
infiltrar-se em qualquer fortaleza inexpugnável. Disfarçar-se, usar documentos
falsos e viajar no mundo todo, até conhecer o espaço. Sua nomenclatura de três
números¹ ser um símbolo de carisma, de perigo, que transforma a carreira de todo
ator, produtor e até de músicos. Uma ode à testosterona e por fim um ode à
classe.”
- E então?
Quis saber
Willy.
- Então
levei um empurrão. Não desisti, desembestei a falar.
“- Deixem-me
continuar... falo agora da perfeição feminina. Aquela que também transformou
seu nome em sinônimo de sensualidade. Desenhada com perfeição, passou por
alguns traumas mas tornou-se a definição de beleza, a rainha pinup no cinema e
fora dele. Loira, curvilínea, com uma graça no olhar, na risada, que a deixava
ainda mais desejável. Uma pérola que invadia os sonhos quentes de quase todo
homem, de quase toda mulher. Ela tinha poderes imensos, seduziu membros da
máfia, cantores famosos e teve um caso tórrido com um presidente. Gostava de
escrever e era repleta de sentimento mas o mundo queria adorar somente suas
outras características. Quanto mais quente melhor², essa Vênus foi destruída pelos
que a adoravam. Envolveu-se com gente da pior espécie que compartilhava o
encantamento por ela. Eu não falo de um cabeludo do deserto, falo de uma
entidade feminina, linda de morrer que com sua morte deixou o mundo mais feio.
Todo o mundo deveria cantar parabéns pra você todo primeiro de junho. Para ela.”
- E?
- Pararam de
discutir, um deles me chamou de doido, ainda bufavam para a briga então
continuei.
“- E o que
falar daquele inglês sociopata, escrito por um médico. Dono de uma
personalidade analítica, fria e difícil. Violonista para focar-se na resolução
de mistérios e tão fantástico nessas soluções que fez com que a Scotland Yard
requisitasse a sua ajuda milhares de vezes. Seu amigo inseparável é como sua
outra personalidade, um médico também, amável e corajoso que oferece balas e
golpes aos inimigos e protege seu companheiro doentio a todo custo. Perpetuou
sua lenda narrando a grande maioria dos casos, contos e romances. O detetive e
seu outro saíram das páginas e ganharam a realidade. Sua residência é
reverenciada na ilustre rua da Inglaterra³. Seus fãs compram séries, filmes e
livros de outros autores inspirados em sua mitologia. Compram coisas de um ser
criado por palavras, as palavras chaves certas.”
- E aí?
- Então um
deles gritou.
“- E que
porra isso tem a ver conosco.
Eu olhei bem
pra ele.
- Bem...
tudo. Vocês saíram de uma reunião, missa, culto em que pregam o amor e agora
querem se acabar na porrada. Esqueceram que já estão conspurcados, que todos
nós estamos. Saímos do cinema, desligamos o Bluray, fechamos os livros, as
músicas acabam ou vamos embora do museu. Quando gostamos dizemos que adoramos.
Duvido que vocês não façam isso, eu faço isso, todos fazemos isso. A diferença
é que reconheço que me deixo levar pelo encantamento de conhecer seres
fabulosos, criações míticas. E que eles nem sempre são bons, diferentes de
iluminados ou gordos carecas. Eles são mais próximos de nós pois não tiveram
nenhuma inspiração sugada de uma força externa. Foram criados por si e
abraçados por nós. Vocês são hipócritas que rejeitam qualquer ideia diferente
do que seu padre, bispo, pastor, papa ou monge falam. Não entendem que já estão
em uma religião maior. Vocês há há há, vocês adoram seres que vocês mesmos
consideram profanos. Os satânicos da mídia!”
- Putz!
- Então
levei a garrafada e caíram em cima de mim.
O barman
corcunda e caolho dá uma cerveja trincando ao Pensador do balcão.
- Mas foi o
tempo de eu chegar e escorraça-los a base de pancada.
Sangrando, o
Pensador prossegue:
- O que eu
faria sem meu canto pra beber? Iam destruir o Casulo.
Willy serve
o Pensador.
- Nunca
pensei que diria isso, obrigado. Eu precisava mesmo sair pra cagar. Hoje te
deixarei bêbado por conta da casa.
O Pensador
abre o sorriso. Na jukebox começa a tocar A
boy named Sue. Willy não contêm a comoção, seus olhos brilham enquanto ouve
a música.
- Esse cara.
Essa voz grave. É como Deus pra mim.
Bebericando o
Pensador responde:
- Eu sei!
Willy o olha
intrigado. O Pensador lhe estende o mesmo sorriso:
- Para mim
também meu caro, para mim também.
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