Não é comum que perguntem.
As pessoas hoje, cada vez mais engolidas pelos celulares,
pela rede, não te olham nos olhos e perguntam o que você quer.
O que eu queria era uma vida idílica, idealizada e cálida
pois não levava desaforo pra casa.
Um trabalho que não me destruísse física e espiritualmente,
amigos que estariam lá para o que desse e viesse.
Um enlatado americano.
Quando percebi que estava beirando os trinta, que meu
trabalho era um saco e que meus amigos tinham suas próprias e indispensáveis
vidas, eu aceitei.
Eu queria planejar uma família como quando escrevia minhas
listas de supermercado.
Recebi uma gravidez inesperada e caótica, senti dores que
nunca senti e jamais fiquei tão incomodada.
Mas ela nasceu perfeita com um temperamento vivaz e único.
Me apago.
Queria que ela fosse para a melhor faculdade, tivesse amigos
leais e nunca perdesse aquele sorriso que era seu maior trunfo.
Nove meses de sofrimento, apenas seis anos fora da minha
barriga e ela adoeceu.
Eu queria o melhor tratamento, médicos competentes, bons e
baratos remédios.
Ganhei um plantão lotado de domingo e um diagnóstico errado.